sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VAMOS DE SILVANA DUAILIBE - BANDIDOS E MOCINHOS

Com Silvana Duailibe

Acho que eu ainda estava na barriga da minha mãe, quando comecei a ouvir aquela cantilena maniqueísta do “bem contra o mal”, mas nasci e cresci testemunhando, na maior parte das vezes, o contrário – o mal contra o bem. De qualquer maneira, a idéia sempre partiu dessa dualidade bem delineada: de um lado, o bem, com todas as suas variáveis, do outro, o mal e suas inúmeras garras.

Nas histórias infantis, nos desenhos animados, nos filmes, no catecismo, em casa e na escola, esse discurso nos alimenta, desde a infância, impondo a ilusão da separação dessa dupla potencialidade. Mas, as coisas não são bem assim...

Frente à realidade, já levei muito susto, nessa vida. Ou era aquela amiga que eu julgava fiel e carinhosa e que, de uma hora para outra, se mostrava traiçoeira (mudança de anjo pra demônio), ou era o colega, sempre tão solidário e eficiente, que, de repente, demonstrava seu lado negligente. Tinha também o exemplo dos meus próprios pais, que sempre pairaram numa nuvem de perfeição, para mim, mas que, vira e mexe, caíam da nuvem, fosse porque se mostravam frágeis demais em determinadas situações, fosse porque me pareciam injustos em outras.

Bandidos pra cá e mocinhos pra lá? A vida real não é assim e, mesmo nos livros de história, onde a humanidade é apresentada em grupos (os vilões e os salvadores da pátria), os fatos têm uma complexidade muito maior.

Fracos todos somos. A diferença é o alcance dessa fraqueza.

Demorei a me dar conta de que uma vez bandido nem sempre bandido e o mesmo vale para o mocinho. Como assim? É simples: o mundo não é dividido ao meio, com os bons habitando uma esfera e os maus, outra, como no modelo pós-morte da igreja católica, que joga uma parte da população no céu e a outra, direto no inferno. Talvez, convivamos todos num imenso purgatório, onde o bem e o mal se misturam e quase se confundem, muitas vezes.

O certo é que todos temos um deus e um diabo dentro de nós e as doses de um e de outro vão depender do temperamento, da consciência, do nível de crescimento e das circunstâncias. Pessoas extremamente boas, aos olhos dos outros, podem guardar atos sórdidos, da mesma forma que gente ruim pode surpreender por ações contraditoriamente benéficas.

Quando somos apresentados a alguém, portanto, diversos critérios de identificação daquela pessoa vão ser acionados por nós e a primeira impressão, somada a esses critérios, nos dará a referência da simpatia ou não simpatia por ela. Porém, nada, mas nada mesmo como o tempo e a convivência para apresentar essa pessoa por inteiro!

Existe um ditado que diz: “A oportunidade faz o ladrão.” Outro ainda reforça: “Todo mundo tem seu preço.” E eu me pergunto quem é quem nessa história. Será que eu posso definir como mau aquele que explodiu um caixa eletrônico de um banco, considerando esse ato em si? E o que dizer daquele aluno que se forma, roubando notas? Ele é menos mau, tão mau quanto, ou mais mau do que o assaltante de banco? A mim o aluno parece ser um criminoso bem pior, uma vez que as conseqüências do seu delito serão amplas e duradouras.

Aqui, não se incluem os psicopatas, nem os portadores de distúrbios de comportamento de nenhuma espécie. Estamos falando de pessoas “normais” e comuns. Bem, pessoas assim distribuem, por aí, gestos e verbos ditados pelo bem e pelo mal, ao sabor da sua consistente ou inconsistente formação e ao sabor das situações.

Perigoso é acreditar apenas no que se vê rapidamente e julga sem cuidado.

Confuso? Sim, se desejarmos etiquetar bons e maus. Mas, se aceitarmos o fato de que somos seres mesclados de nobres e de vis sentimentos, tudo fica mais fácil de entender e de lidar.

O Tao chinês explica muito bem isso, com a filosofia do Yin-yang e eu busco sempre nos orientais os seus conceitos metafísicos porque eles são limpos, realistas e não estigmatizam o homem.

Duro é ver pessoas com o mais puro ar angelical e descobrir nelas as atitudes mais desprezíveis! Mais duro ainda é vê-las iludindo os mais desprevenidos.

Eu, por mais malícia e jogo de cintura que tenha adquirido com a vida, continuarei levando sustos...

Como Odontopediatra, Professora de Odontologia Uniceuma, Troante e Mulher - Texto postado no Alex Palhano - em O Imparcial

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