terça-feira, 26 de janeiro de 2010

VAMOS COM HÉLCIO SILVA - ENTREVISTA EDSON VIDIGAL

Com Hélcio Silva

Eu gosto de relembrar fatos históricos para compará-los aos acontecimentos de hoje. Vidigal estava naquela euforia de deixar a presidência do STJ e dedicar suas forças para a campanha ao governo do Maranhão. Havia quem acreditasse e quem não acreditasse. Tudo ficou esclarecido no dia 29 de março de 2006, quando a deputada Helena Heluy fez, na tribuna da Assembleia, um discurso em homenagem 95 anos de emancipação do município de Barão de Grajaú, e, no fim de sua oratória, mudou o assunto do discurso afirmando:

“Quero dizer mais, Senhor Presidente, que hoje, a partir das 13h30, estará em nossa São Luís, despido da toga de Magistrado, o ex-ministro Edson Vidigal ou ministro aposentado Edson Vidigal. Ele vem para o Maranhão, para o seu estado, enfrentar as lutas eleitorais deste ano e vem colocando-se à disposição da classe política e do eleitorado maranhense para concorrer ao cargo de governador do Estado. E eu vejo nesta disposição do companheiro ministro, e digo companheiro porque conheço o Vidigal desde 1960, companheiro de profissão, jornalista, quando, ainda, como já disse, certa vez, de bicicleta, peregrinava por estas ruas de São Luís proclamando o desejo de ver, através dos meios de comunicação – antes como jornaleiro, depois como jornalista – este nosso estado livre de toda a opressão e dominação de um poder.”

Edson Vidigal, como relembrou a deputada Helena, era bom de bicicleta (será que vai fazer gol de bicicleta no Sarney?…). É advogado e professor de Direito, ativista político, jornalista, poeta, escritor e pré-candidato a Senador da Republica pelo Maranhão sob a legenda do PSDB. Ministro de três Tribunais Superiores (TFR, TSE e STJ) ao longo de 20 anos, encerrou sua carreira de magistrado como Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal, desincompatibilizando-se a tempo de se candidatar a Governador do Maranhão pela coligação PSB-PT-PC do B- PRB e PMN. Obteve 15% dos votos válidos, o suficiente para empurrar a decisão para o segundo turno, quando então apoiou Jackson Lago, do PDT, que foi o vencedor.

Hélcio – Como político experiente, que análise o nobre amigo faz da atual estrutura política maranhense, após a posse de Roseana no Governo?

Edson Vidigal – Positivamente, não há o que contabilizar. Esta senhora está no terceiro mandato querendo agora um quarto mandato consecutivo, o que é inédito na história do Brasil.Apesar dessas quadras todas de poder, o Maranhão é o Estado mais atrasado do Brasil, disputando com Alagoas, e ultimamente também com o Amapá, o primeiro lugar em tudo que não presta no Brasil.

Embora mulher, nem mais a face suave da oligarquia, que por algum tempo tentou encarnar, ela representa. Seu estilo autoritário de quem gosta de mandar, mas sem saber exatamente o que quer, só denuncia seu enorme despreparo. Ao contrário da Brigite Bardot, ela envelheceu antes, e graças a Deus, muito antes dos nossos sonhos.

Viver num Estado de Direito Democrático e Republicano no Maranhão é um sonho que nunca envelhece. Eu sei que a maioria dos moradores no Maranhão sonha e luta por isso, pela implantação da Republica e da Democracia, pela alternância dopoder em eleições livres e limpas. Sem isso nunca sairemos da pobreza política e do atraso social e econômico. Veja o Haiti e veja o Japão. Nos dois tem terremotos, aliás, no Japão tem quase todo dia. Mas no Japão não tem nem de longe essa catástrofe que estamos vendo no Haiti. A diferença é que o Japão investiu em educação, que é a base de tudo.

Sem educação não há cidadania, nem economia rentável, nem infraestrutura. No Japão, o povo está preparado, e bem preparado, para tudo.

Imagine um terremoto desse do Haiti no Maranhão. Talvez não faça muita diferença porque a longo prazo já vivemos como vitimas de um grande terremoto político, que produz numa população de quase 6 milhões de pessoas mais de 1 milhão e meio de analfabetos totais e que faz de mais da metade da população dependente do programa bolsa-família do Governo Federal.

Isso tudo é deprimente se considerarmos as grandes potencialidades naturais do Estado. O Maranhão é para ser governado como se fosse um País, mas isso depende de liderança, de conhecimento, espírito público, honestidade, e desprendimento. O Maranhão é um desafio maior que a planilha de qualquer aventureiro, que imagina poder tomá-lo às mãos e dominá-lo conforme a agenda do seu provincianismo e despreparo.

Hélcio – Muitas são as denúncias de corrupção que teriam ocorrido na gestão do então Governador Jackson Lago, incluindo, principalmente, os titulares da Casa Civil, da Secretaria de Meio Ambiente e da Secretaria de Esportes. Isso enfraqueceu a candidatura do Dr. Jackson ao Governo do Estado?

Edson Vidigal – Eu também não ignoro essas conversas, que para mim não chegam a configurar denúncias. Denúncia tem que conter indícios suficientes de materialidade e autoria. Só com esses ingredientes deve ser acolhida e apurada. Há muita coisa vaga no ar, mas nada concreto, específico, como o que estamos assistindo, através do Diário Oficial, na atual temporada da senhora Murad Sarney.

Hélcio – O Dr. Edson Vidigal é mesmo candidato ao Senado da República? Por quê?

Edson Vidigal – Porque a transição do autoritarismo para a democracia ainda não se completou. Ainda temos quase 200 leis entre as ordinárias e as complementares para implementarmos às promessas da Constituição. O Senado, ademais, tem funções específicas e nós precisamos dar efetividade à Federação, que é o modelo proposto pela Constituição ao Brasil.

O Maranhão vai ganhar muito quando for respeitado em Brasília pela competência funcional, preparo intelectual, e pelas fichas limpas dos seus Senadores. Muito de estranho e ruim que está acontecendo no Brasil, como, por exemplo, esse exacerbado ativismo judicial, decorre da omissão do Congresso, em especial do Senado.

Nossas leis ou são mal feitas, direcionadas a alguns interesses específicos, ou nem são feitas, ficam só nas intenções, resultando daí as brechas das leis, também conhecidas como vacacius-legis. É nessas brechas que o Judiciário, por exemplo, legisla e o faz deforma ilegítima, muitas vezes prejudiciais embora de forma bem - intencionada. O problema é que os Juízes não foram imaginados para essas usurpações. Mas eles agem porque o Congresso se omite, o Senado entra no conluio e não está nem aí.

Você sabe quem processa e julga Senador e Deputado? O Supremo. Você sabe quem processa e julga Ministro do Supremo? O Senado. E quantos Ministros do Supremo o Senado em toda a sua historia já processou e julgou? Não sei de nenhum.

As instituições têm que funcionar de forma harmônica, mas independentes entre si. Quer ver outra tragédia que à falta de lei está quebrando empresas no Brasil e, portanto, gerando desempregos e travando o crescimento da economia?

Já não bastassem as distorções com que são interpretados os direitos trabalhistas, tem a penhora on-line em que Juízes, liminarmente, bloqueiam o dinheiro das empresas, dos seus diretores ou sócios, provocando um terrível desequilíbrio no fluxo de caixa, isso tudo para garantir um suposto direito sobre o qual não há ainda nenhuma aferição. Não há uma lei no Brasil regulamentando a penhora on line, que foi instituída apenas para dar eficácia à execução da decisão judicial transitada em julgado.

Eu vou querer, como Senador, abrir uma grande discussão no Brasil entre empresários e sindicalistas até encontrarmos um ponto de equilíbrio que nos permita, através de uma lei, acabar com esses abusos, em especial dos nossos bem intencionados juízes trabalhistas do primeiro grau.

Estou anotando num caderno, todo dia, toda idéia nova que me surge, resultado do que observo, sobre o que um Senador em tempo integral, como eu quero ser, que não tem negócio pessoal nenhum e nem interesse particular a postular no Governo, pode fazer em favor do Povo do seu Estado e a favor do Povo do Brasil.

Hélcio – O Ministro Vidigal vai ganhar mesmo essa eleição para o Senado?

Edson Vidigal – Estou otimista. Acredito que o nosso eleitorado já esteja maduro, em segmentos decisivos, para acolher um candidato com este perfil. Mas, por enquanto, sou apenas pré-candidato inscrito para os efeitos da lei no livro próprio do meu partido.

Tenho que enfatizar isso assim, senão vou ser multado por propaganda antecipada. Você está vendo que não é propaganda, mas aqui no Maranhão tudo acontece. Como diz o slogan da BandNews, em 20 minutos tudo pode mudar…

Hélcio – O Dr. Vidigal ainda pensa em governar o Maranhão, para tentar uma mudança na estrutura política, social e econômica do Estado? Quando? Na eleição de 1914?

Edson Vidigal – Não sei quando, mas penso, sim. Só quererei estar com a saúde física e mental que tenho hoje quando isso tiver que acontecer. Isso até me lembra a estória do sujeito que, de tanto ser subestimado em sua terrinha, um dia foi embora e anos depois, numa bela manhã, ele adentra o largo da festa da igreja buzinando um caminhão fazendo soar escandalosamente o refrão – flamengo, flamengo, tua glória é lutar… Todo mundo correu para ver aquele caminhão, as beatas, as baratas da igreja, e o padre leu no para-choque a frase que o horrorizou – eu quero é rosetar…

Tira esse caminhão daí, isso é ofensa aos bons costumes, prenderam o caminhão, o conterrâneo pagou uma multa, foi embora, mas no ano seguinte, na mesma festa do padroeiro, ele reaparece no seu caminhão buzinando o mesmo refrão – flamengo, flamengo, tua glória é lutar… O padre, e agora também o delegado, as beatas encantadas com o cara do caminhão, todos correm e quando o padre com o delegado ao lado quase se preparando para mandar prender o conterrâneo não sufoca a frustração com o que agora vinha escrito no para-choque do caminhão – continuo querendo…

Eu ainda vou continuar querendo. Mas sem pressa. Vivo a certeza de que isso irá acontecer. E como já disse, estarei preparado e só precisarei da mesma saúde física e mental de agora.

Hélcio – Apesar de sua amizade pessoal com o presidente Lula, mantida há alguns anos, o ministro não irá votar na ministra Dilma por ser filiado ao PSDB. Acontece que o governador Serra ainda não assumiu a condição de candidato, podendo até desistir. Nesse caso, na sua opinião, sendo um novo tucano, quem no PSDB substituiria o governador Serra?

Edson Vidigal – Não, não votarei na Dilminha. Temos uma relação pessoal antiga, de carinho e respeito mútuos, mas o meu partido terá um candidato, o Governador Serra.Pedi a um Ministro amigo comum que transmitisse ao Presidente Lula uma mensagem – é preferível um adversário do que um inimigo. Estou adversário, não estou inimigo.

Todos nós no PSDB trabalhamos a partir da idéia de que o Governador Serra será o nosso candidato a Presidente da República.

Hélcio – Essa última pergunta vai mexer na estrutura oposicionista. O Sr. acredita na reorganização da Frente de Libertação com uma candidatura única para enfrentar Roseana Sarney? Roseana vai ganhar a eleição?

Edson Vidigal – Defendo que a eleição para Governador no Maranhão deva ser plebiscitária, ou eles, da oligarquia, ou nós. Essa idéia de Frente está meio desgastada. Estamos trabalhando uma coligação que forme um arco, o maior possível, de partidos que se opõem ao atraso do Maranhão. A candidatura será possível, sim.

No momento os partidos estão combinando deletar todas as candidaturas para que, após consumada a unidade, se chegue ao nome de consenso, que melhor atenda às expectativas e crenças populares. Pessoalmente, acho que, no momento, do lado de cá, quem ainda reúne as melhores condições para empunhar essa bandeira e vencer é o Jackson. A Roseana tem mais rejeição do que aceitação.

Gente de lá de dentro me contou que o pai dela está querendo tirá-la da candidatura para entregar o sacrifício ao Lobão, que teria como vice o Zequinha, que assim abriria o espaço da imunidade para o Fernando. Todo empenho do pai dela hoje é para salvar o Fernando, o filho do meio.

Com postagem no Portal Mhário Lincoln do Brasil
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Com foto Felipe Klamt - Tomon - 2009

2 comentários:

Eduardo Tajra disse...

Muito boa a matéria, confirma a solidez de Edson Vidigal, sua capacidade analítica e acima de tudo o preparo que precisamos para o Maranhão ser bem representado.

Parabéns pela qualidade do Blog
Gde abç Felipe

Anônimo disse...

Rpz, esse Vidiga não tem parelha não!